Das bobagens que eu escrevo

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Ela sonhava, dormindo ou acordada. Na verdade, principalmente acordada. Distraí-se e de repente estava no meio de um sonho, daqueles onde tudo é perfeito. Sua mãe dizia que sonhar era sua especialidade. Seu pai alertava que ela precisava ser um pouco mais prática e realista. “Já basta a realidade da vida”, ela retrucava. É, porque depois de uma jornada cansativa num trabalho enfadonho, o que poderia ser melhor que deitar na sua cama e imaginar o dia em que teria seu próprio negócio, com liberdade de horários, com poder de decisão, ganhando dinheiro para si mesma e não mais para os outros?

Ela tinha um namorado, estavam juntos há 5 anos. Um rapaz de cabelos castanhos e estatura mediana, tranqüilo, atencioso, trabalhador, mas sem grandes ambições. “Um bom rapaz” – dizia sua família. “Um tipo comum” – a moça definiria. Quando eles discutiam por alguma razão boba, ela se trancava no quarto, colocava algumas músicas românticas para tocar e sonhava com o dia em que conheceria um homem lindo, inteligente e financeiramente estável, com quem se casaria e teria um casal de filhos. Ele a levaria para longe daquela sua cidade sem opções, para conhecer lugares maravilhosos que ela imaginava em detalhes. Teriam uma linda casa com jardim bem cuidado e um salão onde receberia muitos amigos. Ela imaginava a recepção, quando o telefone tocou. Era sua amiga, convidando-a para ir à lanchonete. “Lanchonete? Prefiro continuar sonhando com a linda festa que darei um dia...” Inventou uma desculpa para a amiga - “Ah, estou terminando de digitar aquele trabalho da faculdade” – e recusou o convite. A verdade é que, diante de seus sonhos perfeitos, a realidade parecia desbotada demais.

A vida seguia seu curso. Ela continuava sempre absorta em seus sonhos. Terminaram a faculdade e sua amiga convidou-a para abrir um pequeno negócio: começariam em um cômodo da casa de sua amiga, com entrada independente do restante da casa. Mas ela achava que sua amiga tinha uma visão muito “limitada”, além de poucos recursos para investimento inicial: dificilmente o negócio daria certo. Além disso, estava pleiteando uma vaga numa grande empresa. Enviou currículos, fez 2 entrevistas, mas o emprego não saiu. “Da próxima vez, quem sabe?”

Na mesma época, seu namorado, numa sexta-feira comum, chegou com um grande sorriso e a notícia de que havia sido efetivado no local onde antes estagiava. Com os olhos brilhando, ele a pediu em casamento; disse, empolgado, que faria uma prestação assim que recebesse o primeiro salário para comprar as alianças. Os olhos dela encheram de lágrimas, mas não eram de emoção e, sim, de medo... Medo do que seria o futuro se casando com ele, num emprego sem muitas possibilidades de crescimento, morando numa casa que teriam que financiar e que levariam 20 anos para pagar, tendo que fazer muitos sacrifícios para sustentar os filhos... Então, ela disse “Não”, fechou o portão, chorosa, e entrou para o seu quarto, onde ficou todo o final de semana. Ela recusava-se a levar uma vida medíocre. Ligou o rádio, tocava uma música de Legião Urbana “Se o mundo é mesmo parecido com o que vejo/ Prefiro acreditar no mundo do meu jeito/ E você estava esperando voar, mas como chegar até as nuvens com os pés no chão?”... Ela interpretou o trecho da música a seu modo, achou que era um sinal e decidiu mergulhar nos seus sonhos mais uma vez.

Enquanto sonhava, o tempo passava. Foram-se dias, semanas, meses... O negócio de sua amiga começava a prosperar. Com paciência e trabalho, se tornaria um dia um grande negócio. Seu ex-namorado sofreu e chorou por semanas, até que conheceu uma moça de cabelos castanhos e estatura mediana, tranqüila, atenciosa e trabalhadora. “Uma boa moça”, disseram seus pais. Uma moça que um dia aceitaria seu pedido de casamento, com quem um dia teria filhos...

E ela? Ela continuo sonhando seus sonhos perfeitos, no seu quarto de sempre, deitada na sua cama de sempre. Até que um dia, não mais acordou...

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