Sobre o Sentido da Vida

quarta-feira, 30 de julho de 2008

(texto que publiquei há muito tempo no blog anterior)

"A resposta de Singer (e a minha própria, mas a um nível mais térreo e menos abstracto) consiste em dizer a essa pessoa para olhar para o mundo à sua volta com olhos de ver. E que medite no sofrimento dos que morrem à fome, dos que labutam diariamente para sobreviver, dos que sofrem as mais vis injustiças, dos que são estropiados, privados dos seus direitos, etc. Mas quando se diz que uma vida terá sentido desde que possa servir para trazer algum bem a este mundo, desde que possa servir para ajudar alguns dos que estão em circunstâncias muito piores do que nós — quando se diz isto, o nosso interlocutor não se deixa impressionar. Tudo isso é verdade, há imenso sofrimento no mundo, mas a regra básica da psicologia humana é esta: um ardor no meu dedo mindinho é mais importante para mim do que um milhar de pessoas a morrer à fome a 5 Km de distância. Uma inquietação na minha alminha é mais importante do que as pessoas todas que estão à minha volta e que eu podia ajudar de várias maneiras. É assim que somos. O que não quer dizer que tenhamos de ser assim. De modo que esta resposta, a um nível mais térreo, também não satisfaz nada o nosso interlocutor angustiado com o sentido da sua vida, com as suas dores de alma. O que ele quer é o impossível. Quer uma resposta simples e rápida, que dê sentido universal à sua vida, mas que ao mesmo tempo lhe fale a ele em particular e não a todos os seres humanos em geral e — sobretudo — não quer dúvidas nem ter de fazer grande coisa. Se tiver de fazer alguma coisa, terá de ser algo como um contacto directo com Deus. Não será capaz de dar 200 contos para ajudar uma vítima da fome ou da miséria, ou para ajudar um estudante pobre inteligente que de outro modo terá de deixar de estudar. Mas será capaz de gastar 200 contos numa peregrinação algures, ou num quadro com uma boa representação de Deus, ou numa viagem para ir ouvir e ver o Papa.

Esta atitude compreende-se. O que o nosso interlocutor quer é resolver a sua vida; não quer resolver a vida dos outros. E por mais que lhe possamos dizer que ajudar os outros é a melhor maneira de dar sentido à sua vida, isso é demasiado rebuscado para ele. Ele quer falar directamente com a gerência para ter a certeza que é promovido, não quer apostar na possibilidade de promoção sendo um trabalhador honesto e altruísta, que ajuda os seus colegas.

...

Não quero deixar o leitor com uma nota de pessimismo. Quero dizer-lhe que há imensas coisas que estão nas suas mãos. Nomeadamente, as vidas das pessoas que estão à sua volta. E a criação de algo que seja bom para alguém. E que se por acaso enfrenta o problema pessoal do sentido da vida, do ponto de vista emocional o melhor a fazer talvez seja pensar um pouco menos em si e um pouco mais nos que estão à sua volta. Poderá descobrir, com algum espanto, que não tinha gosto pela vida porque a vida não tem gosto quando só olhamos para nós próprios e nos esquecemos dos nossos semelhantes."
(Desidério Murcho)

Para quem quiser e puder ajudar...
Encontrei seguindo link do blog da Lu: www.amigosdelucaseleo.blogger.com.br

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